sábado, 25 de outubro de 2014

CULTURA BRASILEIRA - Aula 12 - Cultura do cinema brasileiro



Cultura do cinema brasileiro

Nas mais diversas manifestações culturais em especial, quando nos falta histórico ou referência própria, improvisamos e moldamos a nossa feição. No teatro, por exemplo, desde a segunda metade do século XIX quando os gêneros populares importados da França, como a Opereta e o Teatro de revista chegaram ao Rio de Janeiro, a chave do sucesso foi o improviso em tom local.

Na peça abrasileirada Morfeu o Deus do sono vira Joaquim Preguiça, Cupido passa a ser Quinquim das moças. A fórmula pegou, outros autores fizeram do Barba Azul de Milho da Duquesa a Baronesa da Caiapó. Essa veia do cômico, do bom humor, muitas vezes assentado na paródia, foi uma marca do teatro brasileiro. Da mesma maneira que seu diálogo com a música popular, outra marca forte.

CULTURA BRASILEIRA - Aula 11 - Pós-modernidade e o enigma brasileiro



Pós-modernidade e o enigma brasileiro

A cultura brasileira tornou-se o palco de uma disputa simbólica: a crítica da desigualdade com a velha ordem da conciliação das diferenças. Uma mentalidade fundada na generosidade e na hospitalidade, mas também na exclusão, bombardeada pelas experiências culturais da pós-modernidade.

O Brasil é o 5º país em superfície, não temos terremotos ou ciclones, mas temos o segundo rio do mundo em cumprimento, o amazonas, que é o primeiro em largura. Por causa da natureza somos auto-suficientes em energia, e nossa energia é limpa, porém, somos a 7º economia do mundo e um dos 12 países mais desiguais do planeta. É um dos 15 países com maior número de homicídios.

Investimos 5,4 do PIB em educação, tanto quanto os EUA e mais do que a Itália, e estamos em 7º entre os países com mais crianças matriculadas no ensino fundamental. Temos o 2º maior índice de analfabetismo da América Latina, atrás somente da Bolívia.

O Brasil se submeteu por 450 anos ao modelo europeu e já se submete ao americano por mais de meio século. Mais isso não impediu o país de cultivar seu próprio modelo feito de miscigenação, sincretismo, alegria, sensualidade, simpatia, acolhimento, solidariedade e esperança. Criou para si mesmo uma civilização a partir de uma história dolorosa, uma natureza generosa, e a tentativa de não levar a pior nas situações difíceis.

CULTURA BRASILEIRA - Aula 10 - A cultura literária



A cultura literária

Houve época em que a literatura era o principal sonho cultural da elite brasileira, mas, hoje, a literatura não tem mais o mesmo peso cultural que possuía. Hoje as obras literárias disputam a atenção das pessoas com um bombardeio de fontes de prazer, reflexão e entretenimento.

Nossa história é marcada por uma desigualdade social que fez do Brasil um país da oralidade. E mesmo nossa elite leitora é muitas vezes uma iniciante na cultura literária.

Segundo a câmara brasileira do livro há quase 90 milhões de letrados no Brasil e uma parcela grande desse bolo não lê nada. A situação é crítica para o Brasil, os estudantes têm dificuldades de usar a leitura como ferramenta pata obter conhecimento em outras áreas, isso significa que grande parte dos estudantes do país conseguem apenas localizar informações ou reconhecer o tema de um determinado texto, habilidades que são do nível mais básico da leitura.

A literatura é uma condição, tomar contato com o universo literário leva a um prazer específico que a outros não se compara. A escrita narrativa ou lírica expõe constantes culturais históricas ou amplifica questões recorrentes da existência humana. A imaginação literária não está descolada da vida, mas isso não é claro para os leitores em formação e até para alguns já formados. A importância de se ler muitos livros é tomar consciência de um número de propostas alternativas de relatos de experiências, situações e reações. Para que se possa aprimorar um "eu" autônomo em relação ao mundo, podemos entender melhor a cultura, a nós mesmos, o nosso comportamento mais inconfessado e a nossa própria vida por meio da literatura.

CULTURA BRASILEIRA - Aula 09 - O consumo cultural



O consumo cultural

A cultura é tudo que uma comunidade faz: a maneira de se vestir, amar, pensar, usar os mesmos instrumentos que outra comunidade usa, mas de um jeito próprio.

Cultura tem a ver com um domínio de conhecimento sobre as artes, a literatura e sobre aquilo que em geral faz parte de um mundo não utilitário. 

O filósofo Renato Janine lembra que se pode encarar a cultura como uma experiência que amplia os horizontes das pessoas garantindo a elas mais liberdade. Uma nova língua amplia o contato com o mundo, um poema chama atenção para aquilo que não se percebia, artes plásticas ajudam a ver as coisas de uma maneira diferente. A narrativa de um livro, um filme, teatro na TV, faz você vivenciar experiências que nunca terá ou que ainda não teve.

Quando vivenciamos uma obra a cultura nos fornece estilos de sentimentos e pensamentos, que ampliam as nossas possibilidades de escolha, e nesse sentido uma experiência cultural pode nos modificar aumentando a nossa liberdade.

CULTURA BRASILEIRA - Aula 08 - As artes plásticas no Brasil



As artes plásticas no Brasil

José Ferraz de Almeida Junior, talvez tenha sido um dos primeiros artistas plásticos a desenvolver uma forma específica para pintar um cotidiano tipicamente brasileiro. Nascido em Itu no interior de São Paulo Almeida Junior foi um pintor de formação acadêmica do século XIX, que estudou na Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, depois em Paris com bolsa do imperador Dom Pedro II.

A quadro o “Caipira picando fumo” de1893, talvez sua obra mais citada é um exemplo de que, além de retratar o homem do povo, que vive na terra , Almeida Junior o retratava absorto, concentrado, pensativo.

O Caipira Picando Fumo


Ver site: http://www.culturacaipira.com/2013/12/03/o-caipira-picando-fumo-almeida-junior/

Almeida Junior estudou sobre orientação de dois acadêmicos que foram fundamentais em sua formação no Brasil, Vitor Meireles e em Paris Alexandre Cavaneli. A partir de 1876 quando foi estudar na França, antes de voltar ao Brasil e sobre orientação acadêmica de Cavaneli, Almeida Junior expôs um trabalho realizado em Paris que já tinha características mais regionalistas e menos tradicionais. “O derrubador brasileiro” de 1879, que mostra um lenhador.

O derrubador brasileiro

Ver site: 
http://artefontedeconhecimento.blogspot.com.br/2011/09/o-derrubador-almeida-jr-1850-1899.html

A produção do artista pode ter sido irregular, muitas vezes atrelada a encomendas que atendia para sobreviver. Mas é aparente seu esforço em sair do universalismo acadêmico para adentrar a uma realidade brasileira.
Isso fica mais evidente se notarmos que no início do século XIX o pintor Jean Baptiste Debret foi o primeiro artista estrangeiro a tentar romper com uma forma pré estabelecida, no caso o neoclassicismo, para pintar o Brasil, ainda que a preocupação com a documentação sobressaia nas cenas de escravos, de índios e nas paisagens. Muitos de seus desenhos, como o de “Escravos remunerados” no Rio de Janeiro, apresentam um tipo de mudança formal que dá o tom de uma dinâmica social da colônia. Note que a condição serviu lembrada pelos “Os pés descalços”, convive com certa vivacidade e graça nos trajes e no trato a oferecer um produto como na aquarela “A vendedora de pão de ló”, uma graça que possa ser explicada pelo fato de que senão ganhassem determinado valor seriam punidos quando o dia acabasse. Ter captado essas nuances diferencia Debret de seus colegas de missão artística francesa como Rugendas e Thomas Ender.

No fim, as produções desses artistas foram muito mais documentos para historiadores, por exemplo, do que avaliadas em seus aspectos estéticos, incluído as aquarelas de Debret, embora elas tenham sido mais complexas a mostrar traços mais específicos de responsabilidade brasileira e sair um pouco do lugar comum de uma visão europeizada de estranhamento do Brasil. Talvez possamos dizer que se o Francês Debret tentou romper com essa forma, o paulista Almeida Junior deu o passo seguinte ao final do século XIX, a olhar mais de perto e com menos preconceito seus personagens, do que os artistas da missão européia.

O vendedor de Flores


Ver site: 
http://pt.wahooart.com/@@/9CWH27-Jean-Baptiste-Debret-Vendedor-flor-fora-de-uma-porta-da-Igreja


Chafariz do Largo do Moura


Negro e negra em uma fazenda


Nhá Chica


O modernismo internacional no início, no século XX tem como características principais uma aparência forte, em que linha, cor e superfície ganham intensidade, no Brasil, onde o movimento modernista foi marcado pela semana de arte moderna de 1922, grande parte das obras abrange essa semana, mas apresenta outras particularidades. Os elementos, formas, linhas e cores ganham autonomia, não ficam ocultas nas cenas e personagens.



As artes plásticas no Brasil na época do início do movimento modernista eram marcadas pelas fórmulas acadêmicas importadas das grandes escolas de artes da Europa. Desde a introdução dos valores neoclássicos onde normas e regras no ensino de pintura, hierarquia de gêneros e temas, imposição de um modelo europeu dificultavam a aproximação das artes com a realidade brasileira.







CULTURA BRASILEIRA - Aula 07 - Racismo à brasileira



Racismo à brasileira

O brasileiro gosta de acreditar que não é racista. A ideia de que somos uma combinatória de etnias faz com que nos tornamos uma etnia a parte. Porém, o racismo ainda existe no Brasil, ainda que mascarado por outras formas de discriminação.

Um brasileiro normalmente negará que é racista. 

A maioria dos brasileiros acham que existe preconceito 90%, mas apenas 10% admitem ser preconceituosos.

O sociólogo Floresta Fernandes percebeu já nos anos 60 que um traço nosso é camuflar a discriminação jogando a culpa em qualquer um e não na gente.

Nossa sociedade teve uma história construída sobre desigualdades. Por tempo de mais as condições de vida e trabalho a relação entre as pessoas pareceu clonar o modo de vida que um dia foi sustentado pela escravidão.

Hoje a genética a biologia já nos informam que raça não existe, não é possível identificar na natureza humana, diferentes tipos racial. Ela é antes uma classificação, uma ideia coletiva, mas raça ainda é um conceito forte. Com rótulo de raça todos se acostumaram a associar valores, crenças e conceitos usados para discriminar grupos sociais.

Em 1954 o sociólogo brasileiro Oraci Nogueira afirmou que o nosso preconceito racial é de um tipo particular e geralmente diferente ao de outras culturas. Aqui se cultua um preconceito de marca, que não seria a mesma coisa do preconceito de origem ativamente realizado em países como  os EUA e a África do sul.

Oraci quis dizer que no nosso racismo conta a aparência, a marca, o contexto e a posição social, não necessariamente com a origem. No Brasil somos tolerantes com às desigualdades, mas somos flexíveis com as etnias. Em muitos países pessoas com pele clara, mas descendentes de negros são tratadas como negros. A origem por si só define o lugar que ela ocupará, pois lá pesa a descendência e não a aparência.

No Brasil as pessoas têm medo de soar racista. Enfrentamos um tipo de racismo que parece silencioso e não é admitido publicamente, ele se esconde numa superfície de precária igualdade. A herança de uma sociedade escravagista e descaradamente hierarquizada e desigual, grita em nossas veias que é possível sentir as suas cicatrizes no dia a dia.

CULTURA BRASILEIRA - Aula 06 - Uma Cultura de Fé




Uma cultura de fé

Santo António já foi vereador no Brasil: o santo ganhou salário, cadeira no plenário e apoio popular dos colegas da câmara. Isso mostra que é muito natural o Brasileiro relacionar cultura e religião.

Sergio Buarque de Holanda, foi um dos maiores intérprete do Brasil no século XX, é dele o estudo clássico sobre a cultura brasileira chamado “Raízes do Brasil” escrito em 1936. Uma das muitas sacadas do livro foi a ideia de que no Brasil os cultos religiosos parecem assumir um caráter intimista auto amável quase fraterno que se acomoda mal as cerimônias e suprime as distâncias.

Nosso velho catolicismo, tão característico, que permite tratar os santos com uma intimidade quase desrespeitosa e que deve parecer estranho às almas verdadeiramente religiosas, provém ainda dos mesmos motivos. A popularidade, entre nós, de uma santa Teresa de Lisieux — santa Teresinha — resulta muito do caráter intimista que pode adquirir seu culto, culto amável e quase fraterno, que se acomoda mal às cerimônias e suprime as distâncias. É o que também ocorreu com o nosso Menino Jesus, companheiro de brinquedo das crianças e que faz pensar menos no Jesus dos evangelhos canônicos do que no de certos apócrifos, principalmente as diversas redações do Evangelho da Infância. Os que assistiram às festas do Senhor Bom Jesus de Pirapora, em São Paulo, conhecem a história do Cristo que desce do altar para sambar com o povo. Essa forma de culto, que tem antecedentes na península Ibérica, também aparece na Europa medieval e justamente com a decadência da religião palaciana, superindividual, em que a vontade comum se manifesta na edificação dos grandiosos'monumentos góticos. Transposto esse período —1 afirma um historiador — surge um sentimento religioso mais humano e singelo. Cada casa quer ter sua capela própria, onde os moradores se ajoelham ante o padroeiro e protetor. Cristo, Nossa Senhora e os santos já não aparecem como entes privilegiados e eximidos de qualquer sentimento humano. Todos, fidalgos e plebeus, querem estar em intimidade com as sagradas criaturas e o próprio Deus é um amigo familiar, doméstico e próximo — o oposto do Deus "palaciano", a quem o cavaleiro, de joelhos, vai prestar sua homenagem, como a um senhor feudal. O que representa semelhante atitude é uma transposição característica para o domínio do religioso desse horror às distâncias que parece constituir, ao menos até agora, o traço mais específico do espírito brasileiro. Note-se que ainda aqui nós nos comportamos de modo perfeitamente contrário à atitude já assinalada entre japoneses, onde o ritualismo invade o terreno da conduta social para dar-lhe mais rigor. No Brasil é precisamente o rigorismo do rito que se afrouxa e se humaniza. (p. 149)

No Brasil, vale toda mistura, todo apego a todas as proteções divinas para nossas atividades terrenas. Não consideramos qualquer tipo de crendice uma mera superstição, mas um jeito de alimentar a nossa chance de estar protegido, então a relação que se mantém com divindade se torna quase sempre pessoal, passional, direta, motivado pela simpatia e pela lealdade, mesmo quando nossa religião tem um intermediário: padre, pastor, pai de santo ou médium.

A uma religiosidade de superfície, menos atenta ao sentido íntimo das cerimônias do que ao colorido e à pompa exterior, quase carnal em seu apego ao concreto e em sua rancorosa incompreensão de toda verdadeira espiritualidade; transigente, por isso mesmo que pronta a acordos, ninguém pediria, certamente, que se elevasse a produzir qualquer moral social poderosa. Religiosidade que se perdia e se confundia num mundo sem forma e que, por isso mesmo, não tinha forças para lhe impor sua ordem. Assim, nenhuma elaboração política seria possível senão fora dela, fora de um culto que só apelava para os sentimentos e os sentidos e quase nunca para a razão e a vontade (p. 150).

No apego ao concreto uma reza nem sempre basta, muitas vezes se intui que é necessário fazer a súplica acompanhada por algum objeto ou mimo, promessas e oferendas, que tem apelo muito mais dramático para sensibilizar o divino. Daí a linguagem religiosa seja marcada por gestos e movimentos de comunhão que vão desde os pulinhos de Iemanjá e São Longuinho ao envio de energia positiva ou negativa coma as mãos para o campo de futebol.


A grande contribuição brasileira seria a comunhão das religiosidades, aqui diferentes crenças religiosas são complementares, o brasileiro busca na religião tudo que o ajude a se relacionar, tudo que dispense esforço exagerado. O que evita a tirania sobre nos mesmos, venha de onde vier sem tanta exclusividade assim.

Essa aversão ao ritualismo conjuga-se mal — como é fácil imaginar — com um sentimento religioso verdadeiramente profundo e consciente. Newman, em um dos seus sermões anglicanos, exprimia a "firme convicção" de que a nação inglesa lucraria se sua religião fosse mais supersticiosa, more bigoted, se estivesse mais acessível à influência popular, se falasse mais diretamente às imaginações e aos corações. No Brasil, ao contrário, foi justamente o nosso culto sem obrigações e sem rigor, intimista e familiar, a que se poderia chamar, com alguma impropriedade, "democrático", um culto que dispensava no fiel todo esforço, toda diligência, toda tirania sobre si mesmo, o que corrompeu, pela base, o nosso sentimento religioso (p. 150).

A cultura religiosa brasileira passa por uma mudança desde a virada para o século XXI. De um lado as religiões começam a não ser a única fonte capaz de conferir significado a existência do homem, como a sociedade passa a ser cada vez mais laica, e menos tutelada por diretrizes religiosas. De outro lado o Brasil devoto vai diminuir a hegemonia católica, que por muito tempo foi intolerante com outras religiões, apesar da ambiguidade brasileira.

Novas formas de expressão, de fé e misticismo, começam a se firmar pelo país com explosivo aumento no mercado de crenças. Vivemos uma proliferação de seitas, igrejas explicitamente gerenciadas como empresas. Meios de comunicação de massa a serviço da devoção, novos templos criados com sistemas de crenças fluidos e não muito claros. O suficiente para colocar esse mercado em expansão em sintonia com o sistema de consumo atual em que cada pessoa tem sua individualidade reconhecida por ser dado a ela escolher o tipo de religião de sua preferência.

Agora o panorama se inclina para uma privatização de fé e fragmentação do mercado das crenças, com isso aumentam as demonstrações de intolerâncias mútuas entre religiões rivais. Apesar das mudanças na mentalidade religiosa brasileira a linguagem da fé predominante no Brasil diz Roberto da Mata, ainda continua a ser a linguagem do relacionamento, que  busca meio termo, a possibilidade de salvar todo mundo e encontrar algo de bom e digno.


Somos um povo que leva mais a sério o outro mundo do que um Deus autoritário e justiceiro com mandamentos estagnados e excludentes. Muitos são os caminhos brasileiros para chegar ao outro mundo, por que o outro mundo brasileiro é o lugar onde as coisas fazem sentido e são justas e equilibradas, porque a vida não é.